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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SANDUÍCHES DE FOTOGRAFIA


A publicidade do McDonalds é uma das melhores. Os sanduíches que são mostrados enchem meus olhos e colocam água na minha boca. Eles são grandes, bonitos, suculentos e com uma cara de muito, muito, muito deliciosos. Porém, vira e mexe o McDonalds é criticado porque os sanduíches mostrados em suas peças publicitárias não são iguais aos que são vendidos nos restaurantes da rede. Dia desses, o Mc divulgou uma nota explicando o porquê disso: segundo eles, os sanduíches para propaganda passam por um processo de “maquiagem” para chamarem mais atenção, e não daria para embelezar um que é feito em menos de cinco minutos pra chegar até a gente.
            Isso reflete muito bem a cristandade de hoje. Não quero generalizar, mas a maioria esmagadora de nós, cristãos, não é sincera com Deus, conosco, muito menos com o próximo. Não somos verdadeiros. Somos sanduíches de fotografia.
            Como tal, nos fabricamos apenas para chamar atenção e disfarçar a realidade. Vivemos de aparência. Montamos uma personalidade de santidade indestrutível. Vestimos uma máscara de perfeição. Tentamos passar para os outros a noção de que sempre estamos felizes, de que tudo está muito bem, obrigado.
            Não somos sinceros com Deus pois só temos coragem de nos aproximar dEle quando nos achamos dignos. Quando não pecamos “grave”. Como se nossa justiça valesse alguma coisa pra Ele. Humpf.
Não somos sinceros conosco pois simplesmente não reconhecemos nosso verdadeiro eu. Ainda não oramos como o publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”. Preferimos ser o fariseu, mostrando a nossa cartela de boas obras ao Grande Eu Sou.
E com o próximo, então? A coisa com os outros seres humanos é ainda mais cheia de maquiagem.
Acabamos nos tornando, então, seres humanos de mentira. Não temos pecados. Não temos frustrações. Não temos desejos ilícitos. Não temos fraquezas. Não sentimos inveja. Contamos apenas nossas “lutas” que nos dignificam. Coisas que vão manchar nossa reputação? Jamais. Histórias que me farão vulneráveis? Nananinanão. Queremos manter a pose, o status, a maquiagem e a fotografia. Queremos vender o nosso sanduíche.
Acredito que o pensamento da sociedade contemporânea é o que nos influencia tanto. Nossa sociedade vive de aparências. As pessoas precisam demonstrar perfeição para que sejam consideradas bem sucedidas e felizes. Mas, se não devemos nos conformar com o sistema de pensamento que não é do Reino (Rm 12:2), porque ainda agimos assim mesmo depois de começarmos a seguir a Cristo?
Um dos fatores (aquele que enxergo por hora) é o fato de que a igreja não tem sido um hospital para pecadores. Tem sido um museu para santos. A religião exige que tenhamos uma perfeição sufocante. As pessoas são cheias de erros, mas não são compassivas nem tolerantes com os fracassos dos outros. Não percebemos que estamos todos no mesmo caminho, que ainda não chegamos ao nosso destino. Se alguém cai, somos os primeiros a condenar a pessoa, ainda que em pensamento. Dizemos: “mas ele parecia tão bom, como foi capaz de fazer isso?” ou “me decepcionei com o comportamento de fulano”. Por causa disso, temos que manter nossa maquiagem para que os outros não vejam quem realmente somos e, assim, não nos critique ou condene.  Somos os santos. Dizer que somos pecadores é só um jeito de mostrar uma falsa humildade. É parte da maquiagem. Só pra ninguém achar que somos prepotentes. Se não fosse assim, não teríamos vergonha de compartilhar nosso verdadeiro eu.
É diferente, porém, quando a gente conversa com seres humanos de verdade. Eles não têm medo do nosso julgamento. São o que são e reconhecem que Jesus é compassivo o suficiente para lhes aceitar assim e trabalhar neles por conta própria. Sabem que ninguém é perfeito ainda e que todos somos vistos de forma igual por Deus. Eles compartilham seus erros mais escabrosos e, assim, tiram máscaras em público que, com a maioria de nós, só cairiam quando estivéssemos sozinhos.
Seres humanos de verdade me encantam. Gente que é o sanduíche da hora da venda e que não se envergonha disso. Essas pessoas me inspiram a tentar ser um ser humano de verdade também, a cada dia. Não um sanduíche de fotografia, nem um ser humano falso, impecável, mas alguém real, sincero, sem disfarces ou maquiagens. Tenha contato com alguém assim e se inspire. Você verá como é bom poder conversar com um ser humano de verdade.



Netto Britto.

Um comentário:

  1. Nesse tema de 'Fast Food', me lembrei de um post que escrevi em abril deste ano. #GeraçãoFastFood http://compondoletras.blogspot.com.br/2013/04/geracao-fast-food.html

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